Depois de muitas dificuldades no passado seu Anacleto supera o analfabetismo com muita persistência. Em meio a um longo período desempregado e além de enfrentar os problemas com a falta de estudo, ele mal conseguia ler e escrever, praticamente sabia apenas assinar o próprio nome e apanhava muito com as quatro operações da matemática.
Até que o seu Anacleto se virava bem com a quarta série concluída em seus tempos de adolescente, mas isso não era suficiente para conseguir um emprego, tentou por vários meses e via sua família quase mendigando, desesperado com aquela situação, seu Anacleto iria jogar a toalha.
Numa última tentativa ele levantou-se bem cedo naquela quinta-feira, porque na tarde anterior ele ouviu dizer que havia algumas vagas de emprego no Ceasa daquela região, no fundo ele nem tinha idéia do que ia fazer lá, porém ele precisava de um emprego urgente, pois sua mulher e seus três filhos de idade entre quatro e dez anos não tinham com ajudá-lo, somente podiam torcer pelo pai guerreiro. Seu Anacleto percorreu todos os armazéns de frutas, legumes e verduras, as respostas foram sempre negativas, durante todo o dia ele tentou uma colocação e aceitava qualquer ocupação para desempenhar com sua força de vontade.
No fim da tarde já cansado ele teve que percorrer o caminho de volta, então ele via os funcionários dos armazéns jogando no lixo grandes quantidades de legumes, verduras e frutas, parou aproximou-se de um dos containers onde estava sendo despejado os alimentos, os funcionários permitiram que seu Anacleto levasse para casa tanto quanto conseguisse carregar, afinal tudo ainda estava bem fresco e em condições de consumo, então ele encheu algumas sacolas e a variedade era enorme, com muito peso ele rumou para casa com o pensamento de que ao menos estava levando o que seus filhos pudessem comer.
Chegando em casa ainda com a luz do dia, pediu a ajuda da esposa para lavar os alimentos que iam para o lixo e prepará-los para a família comer, sua mulher vendo a grande quantidade teve a idéia de dar uma arrumada na garagem e expor os alimentos para os vizinhos, quem sabe alguém se interessava em comprar, afinal a garagem era ampla e não tinham carro, um sonho distante para seu Anacleto. Os alimentos vieram de graça e a família não comeria tudo antes que estragasse, se fosse oferecidos num valor bem baixo seria de grande ajuda qualquer valor que entrasse como receita para quem só tinha débito.
Antes que entrasse a noite a garagem estava pronta para receber as frutas, legumes e verduras, nem precisou muito para organizar o local, pois seu Anacleto mantinha a garagem vazia e sempre bem limpinha, foi só improvisar algumas bancadas com algumas caixas e levantar a porta da garagem que a partir daquele dia passava a ser a frutaria e quitanda do seu Anacleto. Foi um sucesso, naquela noite o mais novo comerciante do bairro vendeu tudo o que tinha tirado do lixo, os produtos estavam em ótimo estado de frescor nem tinha aspecto de refugo, dali por diante todos os dias a tarde seu Anacleto ia ao Ceasa buscar sua mercadoria, ele chegava em casa sempre antes do anoitecer com alimentos fresquinhos e os colocavam a venda por um valor muito atrativo e seus vizinhos contribuíam para sua frutaria crescer. Mesmo com o sucesso de seu comércio ele nunca esquecia dos momentos difíceis e nunca jogava fora aquilo que não servia para vender, no seu bairro sempre aparecia alguém que passava por dificuldades, então ele oferecia aquilo que ainda tinha condições de ser consumido.
Seu Anacleto prosperou de tal maneira que abriu uma frutaria em um outro bairro onde os moradores eram de maior poder aquisitivo, deixou de oferecer os produtos de refugo e comprava direto dos produtores que abasteciam o Ceasa, a qualidade de seus alimentos melhorou muito, ele podia praticar os mesmos valores no seu próprio bairro e obter um lucro maior na frutaria do bairro dos bacanas. O tão sonhado carro não demorou a se tornar uma realidade, seus filhos tiveram condições de estudar em bons colégios e sua esposa gerencia seus negócios e seus funcionários.
Um dia em dificuldades, num outro solidários aos menos favorecidos, assim seu Anacleto deixa seu exemplo de perseverar para prosperar!
Autor: Jose Venuto